quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Falar do que não sabemos

Falar do que não sabemos. Como?
Às vezes pergunto como falar daquilo que não sei. Dos silêncios que incorporam os ruídos mais tenebrosos da minha vida. Dá-mos por nós a viver a nossa vida. Mas eu não estou a viver a minha vida, mas aí já começo a falar do que não sei. Falaremos alguma vez de certezas? Do nós íntegro que se conhece. Do eu que sabe quais as gavetas abrir e aquelas que de tão fechadas já esqueceram que têm chaves. Pergunto-me tantas vezes se é isto que quero. Dou por mim a questionar cada passo da vida que dei. Canto com amor que amo o que sou e declaro poemas daquilo que serei, mas o eu é tão difícil de encontrar. Passamos a vida a tentar escavar o que somos para descobrir que para além da poeira somos muito mais que um buraco para abrir. Somos muito mais que um livro. Não temos fim. Somos páginas. Imensas. Ínfimas. Transparentes. Infinitas. Que sobrevoam todos os dias as miragens dos nossos desejos. Que procuram. Que se perdem. Que fingem. Que de vez em quando são e se sentem felizes. Que, de tão de vez em quando, sabem quando estão a ser felizes. Pergunto muitas vezes ao espelho que não ouve o que vê de mim. Verdadeiramente. O que olha quando sou eu. Sei sem dúvidas de que há tanta dúvida. Tanta pergunta. Que não me encontro plena. Que sempre que me abraço sinto falto de mais alguma coisa. Que não sou completa. Que não entendo: o porquê de me sentir sempre assim.
Gosto tanto de mim.
Acho-me tão bonita. Invisivelmente neutra e naturalmente um furacão.
Gosto tanto de ler. De me escrever. De ouvir: as músicas que me fazem apaixonar, aquelas que me fazem sentir coisas que a sinestesia não me dá. De ver o mar. De parar o carro a meio da noite e ouvir o céu. Que gosto tanto de estar sozinha. E sonho tanto ter tanto mais tempo para ser eu sozinha. Que amo a minha própria cumplicidade. Numa incerteza que me destrói sobre o rumo que quero tomar da minha vida mas numa força e garra suficientes para continuar a lutar. A perguntar. A insistir. A saber que um dia serei mais completa. Que hoje já sou mais completa que antes. Que a luta reside em deixar crescer o que somos e o que queremos. Em deixar perceber verdadeiramente quais os nossos desejos. Quais as nossas ânsias. Quais os verdadeiros momentos que nos fazem ser plenos, calmos e repletos de energia. Essa energia que é tão calmante e ao mesmo tempo tão frenética e fugaz. Sei muitas vezes disto: Eu não sei o que sou, Mas sei o que quero. E é uma luta tão grande aguentar as feridas e os espasmos desse binómio. 

Falar do que não sabemos.

Tentar dormir e não adormecer. Tentar descansar mas tudo o que somos se espalha por completo na escuridão do quarto e dos olhos fechados. Tentar acalmar a euforia do dia-a-dia e descobrir que a guerra, afinal, está em nós.
Os porquês, os desejos, as ânsias,  aquilo que está mal, o que tem de ser curado, como e onde descobrir o quando.  


1 comentário:

  1. Que bonito :)

    Espero que descubras as respostas para todas essas interrogações, que a vida te presenteie com elas e com mais momentos de serenidade .
    Com o tempo as certezas vão tornando-se mais firmes e claras, somos pessoas, somos um processo, um ser em construção permanente, não um produto acabado :) :)

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