segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Adelaide, cor dos nossos sonhos

Amanhã era o teu aniversário. 57 anos da mulher mais mulher que conheci na vida, ainda hoje. 57 anos da mulher canhão que transbordava de amor e alegria só pela sua presença e mágica gargalhada. 57 anos de vida por entre a morte da mulher mãe amiga irmã mais generosa, brilhante e meiga que alguma vez conheci. 57 anos de aniversário que, hoje, serão festejados com a tua família reunida à mesa para te fazer feliz aonde quer estejas - e eu sei que estarás sentada à nossa mesa. Todas sabemos.
Amanhã era o teu aniversário. E se cá estivesses, eu sei como iria ser. E se abrisses os olhos, eu sei o quanto te iríamos amar.
Se o mundo fosse justo e amanhã fosse o amanhã que tanto desejamos todos os anos, deveria ser assim. Deverias acordar connosco na cama a encher-te de beijos, e abraços e apertos e trincas, como merecias. Deverias acordar e veres quem de nós as três chegaria primeiro à tua bochecha. A chatear-te de ciúmes umas das outras para provarmos o quanto te amamos. Deverias acordar e vestir as tuas camisas florosas e cheirosas e ias-te adornar com os teus anéis, colares e pulseiras de simplicidade. Irias pôr-te ainda mais bonita que o teu natural enquanto nós olhávamos o espelho e desejaríamos por tudo um dia ser como tu. Deverias fazer o teu bolo de aniversário connosco a devorar-te a paixão pelos doces. Deverias fazer o teu bolo e tudo o que nós queríamos era sentar-mo-nos à mesa e comê-lo contigo. Provavelmente até deverias ter de me afastar da batedeira. De tão gulosa que saí. Provavelmente terias de pegar na mais pequena ao colo para lhe mostrares para que lado se deve mexer sempre a pasta dos bolos. Tão pequenina e tão brilhante de amor por ti. Provavelmente a mais velha ajudar-te-ia nisso e ainda faria carícias na pequenina e em ti. E tenho a certeza que por menos presentes existentes na nossa casa seríamos a casa com mais presença no mundo. Se olhasse aí de cima sei que ia ver a casa mais quente, ruidosa e feliz. Com a Mãe mais feliz da nossa casa. E nós, eternas pequeninas, ou se acordasses amanhã, já grandes. Terias a noção do que seria acordar no dia do teu aniversário com as tuas filhas feitas, mulheres da vida delas e eternas meninas da tua. Deverias acordar com a certeza que a tua vida nunca foi desperdiçada. E que nós nunca esquecemos o quão gostarias que fôssemos sempre felizes neste dia e nos outros. A vida era mais bonita contigo no teu aniversário. Mas se acordasses amanhã e os teus olhos abrissem ao lado dos nossos tem a certeza que verias, depois desta longa caminhada sem ti, três meninas mulheres capazes de aguentar com a porrada e os terramotos mais fortes do mundo. Terias a certeza que a tua raíz foi sempre regada e que hoje todas as folhas que caem de nós no outono levam a tua semente. Todas aquelas que crescem na primavera já têm a certeza que terão o teu nome escrito em toda a parte. Que não haverá inverno que as queime nem verão que as derreta. Se amanhã acordasses e os teus olhos castanhos voltassem a brilhar terias a certeza que estiveste connosco sempre guardada. Que crescemos na tua ausência presente. Que continuamos a escalar os degraus da vida satisfeitas por conseguir enfrentar todas as gavetas mais escuras que moram dentro de cada um de nós. Que não temos medo de ter medo e que o temos e o sabemos governar. Que continuamos a navegar e a nadar por entre aquilo que somos e a ficar parecidas com a magnificência que te rodeava. Que cada vez mais somos mais parecidas contigo. Adelaide. Nome das nossas filhas, cor dos nossos sonhos, alegria das nossas vidas.
Se acordasses amanhã prometo-te que era assim que te irias sentir. Orgulhosa, feliz, amada, inteira, completamente viva depois destes anos a dormir. Feliz. Se acordasses amanhã festejarias os teus 57 anos de liberdade. De verdade.

Parabéns Adelaide. Mãe dos meus sonhos, mulher da minha vida.
Parabéns. Dos três corações mais bonitos da tua vida. De todos aqueles que ainda hoje te têm ao peito. De quem ainda hoje sonha em ter-te no seu abraço. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Hoje há festa no céu

 Hoje há banquete no céu, E os anjos batem palmas Rodopiando por entre as nuvens.   Hoje há banquete no céu, E a tua gargalhada ec...