quinta-feira, 17 de outubro de 2019

[Do teu lado]

Moro a cada cem metros de céu.
Para te ver e sonhar,
Me embrulhar.
No que é teu,
No que é meu
por teu viver.
Moro a cada cem metros de céu.
Para subir a escada
sempre que o coração apertar.
Para agarrar as estrelas
quando o brilho faltar.

Moro a cada cem metros do céu para ter a certeza que onde quer que estejas, sejas a película que me reveste. O céu que me dá alento. O espelho que me olha. Para ter sempre o cheiro de um perfume que não engana: é todo amor. Moro perto de céu mesmo vivendo com os pés na terra. Deste-me uma das tarefas mais difíceis do mundo: viver no céu mas ter a perícia de arranjar vontade de calcar a terra. Deste-me a luta mais difícil, a de tentar escapar ao sonho que vivo para estar perto de ti. A de ter de misturá-lo com a realidade. É possível. Mas é tão difícil segurar as pontas quando o que mais quero é viver do teu lado. Bom era nunca precisar de sonhar para te ter. Bom era viver com a certeza de seres uma certeza viva. Caminhares comigo e conseguir ver a tua sombra na estrada. Dançares comigo e conseguir sentir o teu pé desajeitado. Dormires comigo e sentir o teu beijo quente e suave na minha bochecha. 

Ai.
Fosse a vida mais fácil de viver que quereria tudo mais difícil - sem saber.

Fosse a vida mais fácil,
De amor
De dor
De saudade
De falta

Fosse a vida um bocadinho menos cruel e estarias sentada do meu lado. A seres minha mãe. A ser tua filha. A adorar-te inteiramente como o amor mais importante da minha vida. A guardar-te e a cuidar-te como a flor mais preciosa da minha vida. A aprender-te, cada bocadinho novo de ti. A amar-te por compartilharmos o mesmo sorriso. A dar-te a mão para te aquecer e a abraçar-te para me aquecer. Fosse a vida um bocadinho menos cruel e poderíamos fazer tudo o que quiséssemos. Fosse a vida um bocadinho menos cruel e estaríamos agora de mão dada. Prometer-te-ia a certeza de viver o resto da vida ao teu lado. Não fosse a vida tão difícil, e era aí que iria estar.


terça-feira, 15 de outubro de 2019

-ar

Viajar,
dentro que somos.
Escalar,
as montanhas que vivemos.
Derreter,
o gelo desnecessário
para que a vida
seja vida
e não a espera da morte.

Sorrir,
por entre as lágrimas
Chorar,
para que o sorriso seja melhor

Acariciar
a
alma.

Lambendo cada vértice de nós com o melhor amor possível.

Apimentar,
Os sonhos
O corpo
A alma
O desejo

Reavivar,
Os tecidos
As entranhas
Os espaços
Os vazios

Ser.
A verdade.
Viver
sem mentir

Beber um copo
Antes do trabalho
Depois do trabalho
Nas férias
De dia
De noite

Quando apetecer.

Fugir
De nós.
Alcançar estados maiores do que somos. Conhecer todos os estados. Não parar de os conhecer a todos. Querer conhecer tudo o que há em nós e no mundo, Desvendar aquilo que a maioria das pessoas tem medo de fugir: a rotina. Desnudar a rotina. Desmantelar a hora certa para isto ou para aquilo. Esquecer. A diplomacia. O bem parecer. O bem pensar. O bem agir. O bem andar. O bem vestir. O bem sorrir. A boa postura. Esquecer que somos apenas pessoas e sermos mais que isso. Os únicos conhecidos a pisar o chão que faz de nós reis e rainhas de um mundo que não aceita desvaidade.

Gostar da noite tanto quanto se gosta do dia.
Gostar do próximo tanto quanto se gosta de nós.
Gostar mais da vida que da vida alheia.

Beijar.
Quem nos ama
Quem amamos
Quem faz o nosso mundo ser amarelo, rosa, laranja, vermelho, verde e azul
Inventar cores para haver mais motivos força esperança felicidade
Inventar gestos palavras sons e carícias para que nenhuma cor perca tonalidade

Desejar felicidade. Sonhar com sentimentos bons. Querer o bom. De nós. O resto vem seguido. O resto vem agarrado àquilo que de bem é. Há tanta coisa no mundo e vivemos tão pequenos. Amarrados ao quotidiano e aos filhos que vamos ter. Amarrados à vida singela de casa trabalho trabalho casa. Grudados à conta da luz. Ao carro na garagem. Ao jardim impecável. Ao sorriso perfeito. Aos móveis feitos à medida. Às televisões ultra mega HD. Agarrados ao que não importa vivemos. Cheios de riqueza e nus de verdade. A dormir para acordar. A acordar para ir dormir. A correr. Quando fomos feitos para caminhar. Chegar a casa e ligar-mo-nos à vida real que tem tanto de mentira quanto de tristeza por o telemóvel ter morrido sem bateria. Dormimos nas almofadas de seda. Quando de seda deveriam ser os nossos sonhos. De seda deveria ser o nosso acordar. Esperamos a vida toda por momentos que nos tiram o folêgo quando podíamos ficar sem ar de tanto rir. Quando podíamos esperar o sol nascer mas preferimos dormir a acordar cedo. Quando podíamos beijar o mar mas preferimos ir para casa porque é longe. Quando podíamos viajar no cinema mas preferimos a televisão porque fica mais barato. Esquece-mo-nos que o mais barato na vida é o que mais caro fica. Que os ponteiros do relógio podem parar mas o tempo não. Que enquanto vivemos para os outros e não pelos outros o tempo passa ainda mais rápido.

Viajar, Escalar, Derreter, Sorrir, Chorar, Acariciar, Apimentar, Reavivar, Beijar, Desejar,

Fugir,
de nós.

Para nos encontrarmos.
Para sabermos exactamente onde estamos.

Hoje há festa no céu

 Hoje há banquete no céu, E os anjos batem palmas Rodopiando por entre as nuvens.   Hoje há banquete no céu, E a tua gargalhada ec...