Bor-bo-le-ta

Pentear-te o cabelo. Na ilusão de tocar pela primeira vez numa réstia de paraíso. Tocar-te, deslizar-te. Beijar-te. Com uma força de atração capaz de superar todo o atrito da vida. Passear-te. O corpo. Os caminhos que se desenham na tua pele. As estrelas que brilham no teu olhar. Olhar-te. Tão fixamente capaz de te saber por dentro. Decorar-te. Revestida de tudo aquilo que sempre quis e nunca soube. Descobrir. Que o amor está nas formas mais simples da vida: em ti. Que de tão bela e redundante me enches todas as medidas e calibrações.  Calibrar-me. Vezes sem conta. Para ter a certeza que vivo na magia certa. Descobrir(-te) é desejar. O mundo. Os sorrisos. Os sonhos. É querer saborear ao milímetro metragens e metragens de ti. Cuidar-te os defeitos. Tentar não esquecer cada sinal que vive no teu corpo e te dá forma, cada veia que de tão quente me aquece o corpo. Tão Poderosamente Minha. Tão poderosamente te sinto. E navego pelas tuas águas, nadando por entre os teus esconderijos, descobrindo os oceanos de histórias que tens para contar, traçando o delta que te encontra os medos. Abraça-los. Para que nunca te sintas sozinha. Minha. E tão Tua. Tão bonita. Tão leve. Haverá alguém capaz de suportar a leveza que englobas e viver tão intensamente como vives. Desejo ser teu eternamente. Mesmo que não haja amanhã. Mesmo que não tenhas sido minha ontem. Fazer-me de ti faz-me acreditar que sempre fui e serei. Mais completo e cheio. Da vida que me deste por querer saber mais o que é amar alguém por completo. O que é ser apaixonado. O que é sentir o frio, o quente, o fugaz, o eterno, o poder e a incapacidade de ser menos. O que é ser sempre mais. Transformaste a minha vida em mais. Nada se perde, tudo se transforma. Tudo se cria na verdade que é viver pelos meus olhos e pelo espelho que vejo de mim quando te olho. Nenhum molde será mais bonito. Nenhum pássaro cantará tão suavemente quanto a forma do teu andar. Nenhuma brisa será tão fresca quanto as estradas que caminhas. Nenhum sonho será tão mágico quanto a tua boca. Nenhum toque será tão bonito quanto a tenacidade das tuas mãos. Nenhum livro será tão fácil e robusto de navegar. Nenhuma página encontrará tanto quanto dizem os teus olhos.

Borboleta,
Que das tuas asas me fazes voar:
Esperei a vida toda até te encontrar.

Agora anseio que ela consiga brilhantemente encontrar a minha velocidade.

Anseio. Pelos dias que serão. Pelas noites que virão.

Anseio. Ansiosamente. Que a vida tenha a capacidade de chegar até onde eu cheguei
CONTIGO.

Floresta mágica

Agarrar o teu perfume no meu
Soletrar o teu nome
Incessantemente
Para que te conjugues em mim.
Ler-te
Em voz alta
Vezes sem conta
Para que te confundas
E te mistures
No que sou por ser de ti
No que não vejo por te olhar
No que não sinto por te sentir
Abstrais
Tudo o que não quero ver
Retiras, de Mim, do Mundo,
o que não faz falta.
Dás-me, a Mim, ao Mundo,
o que faz.
Ficas só tu
Sempre
E tudo o resto
E o que me dás,

Que é tanto e singelo. Que é infinito e ao mesmo tempo incapaz. Porque quer tudo o que ainda não veio. Porque completou tudo o que já foi. Vestes a minha pele num sabor que cheira a arte. Adornas o meu abraço num sentimento que aperta harmoniosamente o meu peito. Balanças o meu sentido num equilíbrio que foge a todas as barreiras da vida. Consumo-te. Numa ardência que me faz querer mais do mundo e dele nada saber. Num audácia capaz de voar entre os caminhos impenetráveis. Vivo. Cada vez mais. Penso, desenho, escrevo, faço, vou, danço, pesquiso, abraço, corro atrás. Vivo por querer ser o que sou de ti. Pela chama que acendes naquilo que arde em mim. Pelo calor que provocas sempre que cruzo o teu olhar. Acendes-me. Uma luz incandescente que de tão poderosa me deixa ver tudo o que quero. Que faria eu se te tivesse nas mãos. Quantas vezes ressurgiria se fosses tu o alento do meu corpo. Quantas vezes acordaria num sonho acordada. Quantas outras permaneceria, só por querer derreter um bocadinho mais. Acender, reacender. Num ciclo vicioso capaz de nos fazer um só. Na tua impetuosa força, no teu exacerbante poder de puder mexer em mim. Penetrares no que sou sem dúvida sem repouso sem engano. Agarrando o teu perfume. Misturando os teus cheiros nos meus. Fazer a poção mágica que raramente é encontrada no mundo. Fazer valer a pena cada passo que dou, construir a casa que acalenta e carrega cada gaveta de mim. Plantar um jardim, regar a tua flor. Caminhar por entre a floresta mágica que crias em mim.

Renascer
Para viver
Incessancemente cada vez mais
Ser tua
Na entrega mais lúcida que tive
Ser minha
Na luta mais forte que alguma vez ganhei.

Ler-te
Em voz alta
Vezes sem conta
Para que te confundas
E te mistures
No que sou por ser de ti
No que és por ser de nós