quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018


Achei bonito querer ser tão tu como tu eras. Extrair do que foi teu a única coisa que ainda me mantêm viva: tu por inteiro. Por mais que a tua falta tente afogar as minhas esperanças. Por mais que a minha falta de ti queira esmagar a força que tanto me deste de beber. Há algo que nunca me vai deixar morrer neste planalto que é a vida às vezes sem ti. Neste pranto enevoado que às vezes é tentar ver sem os teus olhos. A certeza de  que depois de ti consegui aprender a viver, porque eu não sabia viver sem ti. Porque ninguém, nem tu, nem o mundo inteiro, prepara alguém para a morte. Quanto mais três meninas que te eram tão apaixonadas. Ninguém prepara alguém que ame tanto como se deve amar no amor. Mais do que as regras pintam. Mais do que se pensa que alguma vez será possível exprimir. O amor que te amo não cabe no meu mundo. É tão grande que atropela todas as sensações que te sinto e que carecem de ser tuas. Tão cheio que me enche o coração e que grita a toda a hora que devíamos ter sido sempre ao lado uma da outra. Tão carregado que nenhum dos pesos que sinto por carregar a tua morte às costas é suficiente para me abalar. Tão bonito que me sinto a mulher mais capaz do mundo por ser feita do que és. Da tua pele meio tom. Dos teus sonhos meia lua. Do teu sorriso sol inteiro. Acho tão bonito ser como tu eras mas como eu sou. Tão neutro e sublime ser como sou sabendo que tudo o que sou é teu. Que macio para a alma é ter um molde como tu. Que importante para mim foi ter tido sempre a certeza que cresci dentro de ti. E que ainda hoje evoluo. Para algo melhor do que já fui. Para alguém mais seguro daquilo que já se sentiu. Por mais que a alma esteja quebrada em dias em que as escalas dos terramotos nada são à beira da dor que sinto com o escalar do tempo. Falar contigo por entre as letras que se escrevem no silêncio apazigua-me. Faz-me sentir lado a lado. Amada. Como que a viver por entre os teus carinhos, a adormecer na generosidade do teu abraço, e a vestir-me somente de ti. Achei sempre tão bonito querer ser como tu eras. Acharias tu tudo tão bonito… se me ouvisses.

1 comentário:

  1. A morte é um processo natural, mas nunca estaremos preparados para lidar com ela. Porque somos feitos de sentimentos e afetos que nos ligam às pessoas. Aceitar que, um dia, existirá uma quebra da sua presença, um vazio sem retorno torna-se inconcebível. Continuaremos a amar, mas sentiremos sempre que nos falta o toque, o cheiro, a partilha. Por outro lado, como preservamos pedaços de alguém que nos é tanto, continuaremos a sentir essa proximidade, porque a pessoa vive em nós

    Texto belíssimo!

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