segunda-feira, 25 de junho de 2018

MATARAM-TE,

Dizer-te-ia se pudesse como estou hoje passado treze anos da tua morte. Hoje, numa mensagem enviada pela minha saudade, mando-te o nosso abraço. Quente, apertado, envolto em todo o amor que nasceu e cresceu connosco. Hoje só me apetece abraçar-te. Só me apetecia o teu abraço envolvido no nosso. Quatro corações alimentados pela mesma saudade e ternura. Não consigo controlar a dor. Não consigo segurar as lágrimas. Não sei onde estão as minhas barreiras, não encontro a âncora onde me agarrar para sobreviver ao peso dos anos sem ti. Hoje sou eu despida. Vestida de noite. Noite pura, desnudada pelo medo e pelos caminhos que se percorrem sozinhos por serem tão frios. Hoje sou eu sem conseguir ser. Com os meus vazios a gritar, as minhas faltas a uivar. Hoje sou eu numa dor exponencial passado treze anos da tua morte. Incrível como o meu coração ainda é todo teu, como as minhas mãos ainda parecem ter o teu toque. Mataram-te, mas vives em tudo.

Imagino o teu abraço. Páro no tempo. Porque secalhar não consigo saber como seria. Olho para a janela que já foi tua. Estás sempre lá a olhar para mim. Estás sempre lá tão suave e tão bonita. Os teus colares reluzem… tão bonitos e ingénuos como a vida. A tua voz flutua no meu pensamento tão vibrante e em silêncio. E imagino a repetição dos dias em que tocavas o meu abraço. E quero imaginar como seria ter o teu abraço de verdade. Mas páro. Porque se te visse amarrar-te-ia tão forte que nenhum Deus mais te tiraria de mim. Desta vez não deixava que morresses - prometo que viverias connosco e com as tuas asas. Prometo que eternamente ficarias abraçada a mim. Por toda a vontade e dor esmagadora que sinto de não puder ser eu a dizer-te o quão bonita ficas olhando na tua janela. Ensinando as tuas filhas para que lado se vira a colher ao mexer os teus bolos. Esperneando por nós sermos umas zaragatas. Sinto-te a falta tanto. Mesmo quando te zangavas comigo. E eu me zangava contigo e achava que queria fugir. Que saudades tenho eu de ser a tua criança. Porque só vivi contigo sendo assim. Que saudades de ser a tua filha. Que angústia firme e consistente que estrangula a minha garganta. Que raiva intransigente que molha todo o meu corpo de dor. Queria imaginar o teu abraço. Prometer-te-ia vida eterna do meu lado. Prometo-ta agora. Mas como reagiria eu se conseguisse pegar na tua mão... Como aguentariam as minhas pernas se fosses tu o raio de luz que me alentava. És o meu desejo mais profundo. A minha ânsia mais esmagadora. A tua morte é a dor mais colossal e infernal do meu mundo. (Por favor, junta-te a mim.)

1 comentário:

  1. Qualquer palavra será sempre pequena para tentar atenuar esta dor que fica eternamente. Muita, muita força <3

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