Se eu te visse no céu

Pintava-te o rosto de beijos.
Amaciava a tua saudade com a brisa translúcida da minha presença.  Se eu te visse no céu ficaria a viver contigo. Transformaria todos os teus desejos só para saberes o quão bom é descobrirmos aquilo que amamos. Olhava-te. Se eu te visse no céu, olhava-te. Para ter a certeza que viverias ainda mais para sempre. Para ter a certeza que nenhum traço de ti seria esquecido. Para voltar a ver os sinais da tua pele. Para decorar os seus caminhos. Para te ensinar as constelações. Para te mostrar que te segui como estrela polar sempre que não vejo norte. Para te saber desenhar em mim. Para te ver agora que passaram quatorze anos do teu invisível, para amar as tuas rugas, e brincar com o teu sorriso. Não largaria mais a tua forma. Prometer-te-ia a certeza da tua forma. A certeza que não largaste o relógio que de ouro fazia a tua pele. Que não largaste os teus colares que de ti, te faziam ainda mais leve. Os teus vestidos, de flores mágicas, que dancariam entre as nuvens por te ter. Olhava-te. Para pregar a partida à memória e fazê-la criar mais e mais depósitos de ti em mim. (Acho) que não teria coragem para falar. Se te visse no céu abraçava-te eternamente numa força esmagadora e brutal que te decoraria para sempre. Matava de mim a dor de não saber o que seria abraçar-te no meu corpo depois de tanto tempo. Matava as lágrimas que escorrem de todos os poros que em mim respiram e todo o sentimento de viver com o coração atado na garganta. De ter os sonhos pendurados em flashes de memória.

Se eu te visse no céu!
Se o céu vivesse ao meu lado.
Se pensar em ti fosse só simples e bonito.

Mãe,
Quanto mais penso em ti mais desejo ver-te no céu. Oxalá o céu quisesses concretizar o meu desejo. Oxalá o céu soubesse dar-me a dádiva de descobrir aquilo que amamos. Oxalá o céu me olha-se assim. Vivesse do meu lado. Oxalá os quatorze anos que passei sem ti te trouxessem para junto de mim. Oxalá a vida entre o céu  e a terra fosse rotativa. Para te ter.

Oxalá,
Fosse tudo mais fácil.

Oxalá, 
Não fosse preciso o céu para te olhar.