terça-feira, 15 de outubro de 2019

-ar

Viajar,
dentro que somos.
Escalar,
as montanhas que vivemos.
Derreter,
o gelo desnecessário
para que a vida
seja vida
e não a espera da morte.

Sorrir,
por entre as lágrimas
Chorar,
para que o sorriso seja melhor

Acariciar
a
alma.

Lambendo cada vértice de nós com o melhor amor possível.

Apimentar,
Os sonhos
O corpo
A alma
O desejo

Reavivar,
Os tecidos
As entranhas
Os espaços
Os vazios

Ser.
A verdade.
Viver
sem mentir

Beber um copo
Antes do trabalho
Depois do trabalho
Nas férias
De dia
De noite

Quando apetecer.

Fugir
De nós.
Alcançar estados maiores do que somos. Conhecer todos os estados. Não parar de os conhecer a todos. Querer conhecer tudo o que há em nós e no mundo, Desvendar aquilo que a maioria das pessoas tem medo de fugir: a rotina. Desnudar a rotina. Desmantelar a hora certa para isto ou para aquilo. Esquecer. A diplomacia. O bem parecer. O bem pensar. O bem agir. O bem andar. O bem vestir. O bem sorrir. A boa postura. Esquecer que somos apenas pessoas e sermos mais que isso. Os únicos conhecidos a pisar o chão que faz de nós reis e rainhas de um mundo que não aceita desvaidade.

Gostar da noite tanto quanto se gosta do dia.
Gostar do próximo tanto quanto se gosta de nós.
Gostar mais da vida que da vida alheia.

Beijar.
Quem nos ama
Quem amamos
Quem faz o nosso mundo ser amarelo, rosa, laranja, vermelho, verde e azul
Inventar cores para haver mais motivos força esperança felicidade
Inventar gestos palavras sons e carícias para que nenhuma cor perca tonalidade

Desejar felicidade. Sonhar com sentimentos bons. Querer o bom. De nós. O resto vem seguido. O resto vem agarrado àquilo que de bem é. Há tanta coisa no mundo e vivemos tão pequenos. Amarrados ao quotidiano e aos filhos que vamos ter. Amarrados à vida singela de casa trabalho trabalho casa. Grudados à conta da luz. Ao carro na garagem. Ao jardim impecável. Ao sorriso perfeito. Aos móveis feitos à medida. Às televisões ultra mega HD. Agarrados ao que não importa vivemos. Cheios de riqueza e nus de verdade. A dormir para acordar. A acordar para ir dormir. A correr. Quando fomos feitos para caminhar. Chegar a casa e ligar-mo-nos à vida real que tem tanto de mentira quanto de tristeza por o telemóvel ter morrido sem bateria. Dormimos nas almofadas de seda. Quando de seda deveriam ser os nossos sonhos. De seda deveria ser o nosso acordar. Esperamos a vida toda por momentos que nos tiram o folêgo quando podíamos ficar sem ar de tanto rir. Quando podíamos esperar o sol nascer mas preferimos dormir a acordar cedo. Quando podíamos beijar o mar mas preferimos ir para casa porque é longe. Quando podíamos viajar no cinema mas preferimos a televisão porque fica mais barato. Esquece-mo-nos que o mais barato na vida é o que mais caro fica. Que os ponteiros do relógio podem parar mas o tempo não. Que enquanto vivemos para os outros e não pelos outros o tempo passa ainda mais rápido.

Viajar, Escalar, Derreter, Sorrir, Chorar, Acariciar, Apimentar, Reavivar, Beijar, Desejar,

Fugir,
de nós.

Para nos encontrarmos.
Para sabermos exactamente onde estamos.

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